Conheça a história da empreendedora Isa Costa, natural de Rosário, no Paraná, que mora em Indaiatuba há quase 20 anos. Ela decidiu ser ultramaratonista há quatro anos após um acidente doméstico, que causou comprometimento na medula dela, na região da cervical, precisando passar por uma cirurgia bem delicada. “Após um ano e meio parada eu resolvi voltar para corrida, porém na modalidade de ultra, o que não exige velocidade e sim resistência”, explica.

Cada ultramaratona tem sua particularidade, porém, são extremamente difíceis por serem provas de longas durações. “É provável no mesmo dia pegar sol extremo, chuva e a noite temperaturas muito baixas”, diz ela, ao afirmar que cada dia seu corpo reage de uma forma, como dor, febre, câimbras, bolhas, entre outros problemas, mas o segredo do sucesso está na mente. “Uma mente boa e sadia vai te levar a chegada”, ensina.

Ela, que empreende em Indaiatuba ajudando empresas no engajamento de redes sociais e agora também na organização de eventos esportivos, era atleta de provas curtas, até 21 km. “Minha estreia na ultra foi uma prova de 74 km e três meses depois fui para outra de 135 km e não parei mais”, diz.
Para cumprir o objetivo de chegar ao final, exige dela bastante treino físico nos meses que antecedem as provas, mas exige essencialmente um profundo conhecimento do corpo e domínio sobre a mente. “Então eu treino também concentração, meditação e semanas que antecedem as ultras eu começo visualizar possíveis situações negativas que podem acontecer durante o percurso. E se algo errado acontecer durante a prova, está tudo bem, porque eu lembro que treinei minha mente e meu corpo para o extremo”, detalha sua técnica.

E todos os tipos de imprevistos podem acontecer, desde o soltar da pele toda do pé, esbarrar em animais silvestres, perda do trajeto, o que acarreta perda de tempo e nervosismo e , podem acreditar, ela já correu em meio a tiroteio durante uma ultramaratona de pista, no Rio de Janeiro. Entre os locais que correu, podemos citar na Serra fina, Serra da Mantiqueira, Parque Nacional do Itatiaia, Rio Grande Sul, Argentina, entre outros. “Eu poderia listar inúmeras coisas que me motivaram a seguir, mas eu tenho consciência que sou um ser extremamente recalcitrante, Casmurro é isso me faz seguir e ser melhor como pessoa, claro aí entra a família também que devo colocar no pacote de motivação”, reflete.
Os momentos de superação sempre acontecem, afinal, são corridas de 200 km, distâncias muito longas, com 40 horas sem dormir ,montanhas, entre outros desafios, mas ela considera que seu momento de superação extremo foi dois anos atrás, com seu pai internado numa UTI. “Por isso eu falo da importância da mente estar sob controle, eu fui para uma prova dessas das mais difíceis, inverno, frio demais, a preocupação não deixou que eu me alimentasse bem durante o dia e, já quase madrugada, eu cheguei ao ponto mais crítico da prova, onde eu deveria encontrar o meu apoio (Tipo de guia) para essa parte da prova e ele não apareceu. E eu já havia corrido um dia inteiro e uma noite inteira estava com muita dor”, relembra.

Foi o momento que, de acordo com a empreendedora, o desespero bateu. Ela estava perdendo tempo e poderia ser desclassificada. Com lágrimas escorrendo no rosto, ela tomou um remédio para dor e segui para o ponto mais alto da prova, “Nesse momento eu vomitava, tinha câimbras e os pés já sangravam. Foi terrível porque a medicação me deu sono, e eu dormia enquanto andava (sim isso é possível) uma queda ali e seria fatal. Assim eu cheguei no próximo ponto de apoio, com início de hipotermia, eu tremia é meu corpo pulava do chão ,tive os cuidados ali e, pela primeira vez em uma prova, eu dormi por duas horas”, prossegue lembrando.
E quando Isa acordou, toda machucada, febril, ela começou a tomar consciência do porquê estava ali. “Porque me fazia feliz, porque eu amo as montanhas e as obras de Deus, meu pai me aguardava na Uti e eu visualizava o sorriso dele em me ver com aquele troféu nas mãos pela última vez”. Ela percorreu mais um dia inteiro aquela montanha considerada por ela linda e ainda carregou consigo um atleta que queria desistir. Ela foi a terceira colocada da prova.

“Uso minha experiência perseverança e determinação no projeto que estou trabalhando, para falar com mulheres que, por inúmeros motivos, deixam de acreditar em seus sonhos. E eu sei que é possível voltar a sonhar e principalmente realizá-los quando estamos em conexão com algo maior. Assim conseguimos agir e cruzar a nossa imaginária linha de chegada”, inspira.

E quais são os sonhos dela nesse momento tão delicado de pandemia que o mundo todo está enfrentando. “Meus sonhos são básicos, de poder continuar correndo, estudando, ajudando o próximo e principalmente as mulheres, que passam todos os dias por desafios gigantescos, que ainda hoje enfrentamos simplesmente por sermos mulheres”, diz.